https://www.nasa.gov/webbfirstimages
Como foi a infância do Universo? Como nasce uma estrela? Uma galáxia? A eterna pergunta de onde viemos nos acompanha desde que a humanidade começou a pensar sobre si mesma.
Essa foto que parece saída de um sonho é a imagem mais próxima que temos do nascimento de estrelas. Ela foi capturada pelo Telescópio Espacial James Webb, da Nasa, que tem como objetivo observar como se deu a formação das primeiras galáxias e estrelas. Um telescópio que fotografa com tecnologia infravermelha o local de onde viemos, os primeiros dias do Cosmos.
Entre a pergunta e a foto, foi preciso que alguém sonhasse com a possibilidade da resposta. Buscar solução para questões complexas nos levou longe. E no meio do caminho sempre existiu o sonho.
Quem trabalha, sonha?
O sonho é parte das funções biológicas de todos os seres humanos. Assim como é comer, dormir, respirar. Todas as pessoas sonham, todas as noites.
Por muito tempo o sonho fazia parte da interação humana: servia como mapa para navegarmos a vida. A gente compartilhava os sonhos, tomava decisões por conta dos sonhos, encontrava soluções nos sonhos. Era uma ferramenta de acesso a nossa mente. Mas mais do que isso, o sonho servia como um oráculo.
E por que parece que tudo mudou? Por que temos a sensação de que não sonhamos mais? E, quando sonhamos, por que não levamos a sério? O neurocientista Sidarta Ribeiro, um estudioso dos sonhos, fala o quanto o modo de vida que estamos vivendo tem matado os sonhos. E o quanto isso faz mal para nós e para a humanidade.
Ele diz que nós temos todas as ferramentas (tecnologia, conhecimento, comunicação etc.) para resolver os problemas mais complexos que enfrentamos como comunidade: a fome, a desigualdade social, a violência, a emergência climática. Mas ainda assim não conseguimos sonhar com um futuro melhor, em que tudo isso esteja solucionado.
Ah, eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
A música Capitão de Indústria, do Paralamas do Sucesso, parece um diário de qualquer trabalhador e trabalhadora. Sem tempo de ter o tempo livre de ser, de nada ter que fazer. Estamos adoecendo.
Quem não sonha não tem criatividade, não tem novas ideias, não inova. Quem corre sem parar produz menos do que quem descansa. E sonha.
Onde o sonho e as empresas se encontram?
Para sonhar é preciso tempo. E tempo é o bem mais precioso da atualidade. A tecnologia evoluiu, as formas de conexão se ampliaram, a maneira de se comunicar se expandiu e tudo isso em nome do aumento da produtividade. Mas continuamos a trabalhar no mesmo regime pensado no começo do século XX: 8 horas por dia, 5 vezes por semana.
Por que não evoluir também nisso? Se temos mais ferramentas que nos ajudam a entregar os resultados em menos tempo, por que não aproveitar o tempo? Essa é uma das primícias do experimento 4 day week global. Uma experiência conduzida por uma organização sem fins lucrativos, com a participação de cientistas de Oxford.
A ideia é reduzir as 40 horas de trabalho para 32 horas semanais, sem redução de salários. Serão seis meses de pesquisa, mas alguns dados são promissores: 78% dos empregados que já usufruem de uma semana de 4 dias úteis estão mais felizes e menos estressados. A gente aposta que eles estão sonhando muito mais!
Aqui na Maria-Sem-Vergonha nós adotamos a ideia. Aos poucos vamos compartilhar com vocês como tem funcionado!
O que é o #quietquitting?
Nas últimas semanas viralizou um termo em inglês: quiet quitting. Em uma tradução direta seria “demissão silenciosa”, um fenômeno que começou em países da Europa e nos EUA, com taxas menores de desemprego, de colaboradores pedindo demissão.
Mas o #quietquitting não é apenas sair do trabalho. É mais um reflexo do baixo engajamento dos funcionários, que decidem fazer o mínimo, não aceitar mais horas extras, assumir outras responsabilidades. Tem mais a ver com traçar limites entre trabalho e vida pessoal, especialmente depois de dois anos de pandemia em que tudo ficou ainda mais misturado.
A pesquisa da Gallup sobre o mercado de trabalho global, de 2022, mostra que ao longo das gerações (Z e Millenials), o engajamento dos funcionários entrevistados está caindo, com o menor engajamento de todos.
Para entender um pouco mais sobre o impacto disso, veja alguns números:
A hashtag #quietquitting conta com +68.2M visualizações no TikTok;
Aa #demissãosilenciosa tem +871K visualizações no TikTok;
Employee wellbeing is the new workplace imperative. Gallup, 2022
Quer mais? Aqui tem:
Descansar é algo que se aprende.
Você conhece o Ministério da Soneca? The Nap Ministry foi fundado em 2016 pela Tricia Hersey e espalha a palavra da soneca, do descanso como resistência, especialmente para as pessoas negras.
O Canal Selvagem, no Youtube, promoveu um ciclo de conversas sobre o Sonho. Um presente para quem assiste.
Tá com dificuldade de pegar no sono? Ouça essa playlist!
“Exausto Eu quero um licença de dormir, perdão pra descansar horas a fio, sem ao menos sonhar a leve palha de um pequeno sonho. Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies, a graça de um estado. Semente. Muito mais que raízes. Adélia Prado em Bagagem, fl. 26.
Bons sonhos, Ana Castro.
Maria-Sem-Vergonha